domingo, 11 de agosto de 2013

Dia 17
Pai

As coisas significam mais do que aparentam. Para cada tapa na bunda existiu um empurrão no balança de pneu. Para cada dia ausente existiu um afago no fim da noite. Para cada despedida fria existiu uma chegada surpresa. Para cada noite de saudade existiu uma manhã no parquinho da praça. A vida aparenta mais do que significa. Para cada telefonema demorado existiu uma ausência na peça da escola. Para cada curativo depois da queda existiu uma palavra dita na hora errada. Para cada recado na escrivaninha existiu uma carta sem resposta. O amadurecimento exige da gente mais do que os livros nos contam.
Mas não importavam as quedas da bicicleta desde que você estivesse na calçada de casa me mandando levantar. E não importava chegar tarde do trabalho porque eu sabia que você passaria no meu quarto pra dar um beijo de boa noite. E não importavam os ciúmes quando você dava “carinho especial” pra alguém porque eu me jogava no chão pedindo atenção e você vinha correndo. Não importavam quantos telefonemas você não atendia porque você sempre ligava de volta com mil histórias para se desculpar e eu acreditava, mesmo sabendo que no fundo você só se esqueceu de ligar. Não importava quantos presentes você trazia no meu aniversário porque você nunca acertava o que eu queria e eu só queria você por mais meia hora. Não importava pra mim se repreendido por ter tirado nota baixa em matemática porque o que importava pra mim era que alguém se importava com o que eu fazia. Nunca me importou você trabalhar demais nem ir embora cedo demais porque eu sabia que você ia voltar.
No fim das coisas tudo se resume em dois lados e a gente só tem que escolher um. Tudo na vida tem pelo menos duas opções. Tudo na vida tem o lado bom e o lado ruim. Tudo pode ser isso ou aquilo ou talvez até aquilo outro. Mas no fim, no fim de tudo, é a gente quem escolhe o que vai seguir. Poderia ter escolhido o cara que se esgotou trabalhando e se esqueceu de algumas datas importantes, o diretor executivo de terno e gravata que não podia jogar bola naquele horário porque tinha reunião na empresa, o homem que perdeu muito por ser obcecado por coisas que no fundo nem tinham tanta importância assim. Mas eu pulei pro lado de lá. Escolhi o cara legal que me ensinou a nadar e a cuspir à distância. O cara que me ensinou a pagar o sorvete da menina que gostava e sempre respeitá-la antes de tudo. Escolhi o herói, o superman, homem de aço, o curador de todas as dores. Escolhi o homem que me ensinou a ser homem e me orgulhou de ser homem. Escolhi o meu pai.


Feliz dia dos pais! 

Um comentário:

  1. Muy bueno, Paulinha. Sempre bons os seus textos "diários" no diário.

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