quinta-feira, 11 de outubro de 2012


Dia 7.
Meu grande homem.

Quando meus avós começaram a namorar, bem naquela época onde pegar na mão era o ápice da liberalidade em um relacionamento, eles namoravam por cartas. As cartas daquela época eram os SMSs da atualidade. Minha avó as guarda até hoje. São pouco mais de 50 cartas e não existem mais porque o namoro não durou muito, logo se casaram. Depois do casamento, as cartas deram lugar aos bilhetinhos surpresa. Meu avô era um romântico nato, todos os dias ele deixava uma flor em cima da mesa e um bilhete um algum lugar estratégico. Às vezes ele era bem simples, mas também sabia surpreender. Minha vó, uma bobinha caída nos braços do moço certinho, se derretia toda com qualquer versinho que ele fazia, porque, por mais clichê e previsível que fosse, ela sabia que era de verdade e amava aquele homem que gastava tempo e tinta todo santo dia pra deixar sua amada mais feliz. Meu avô sempre foi o meu exemplo de homem. Não porque era piegas e cheio de lições, mas porque sabia fazer isso sem ser apelativo ou melodramático. Meu avô era homem de verdade, sem falsas máscaras e eu sempre quis ser como ele. Talvez também porque, na minha cabeça, ser um homem como meu avô me traria uma mulher como a minha avó.
Entrei no quartinho dos fundos depois de duas tentativas de voltar pra sala. Parece drama, mas aquilo realmente me machucava. 1 mês depois de eu me mudar, meus avós vieram me visitar e aquele quarto não era a bagunça que está agora. Era um quarto de guardados, mas, totalmente organizado. - Foi ali que li as cartas que meus avós trocavam e os bilhetinhos. - Meu avô foi meu melhor amigo durante 22 anos e meio. Ele me ensinava tudo. Tudo mesmo. Me ensinou a empinar pipa e a chamar uma garota pra sair. Me ensinou a fazer carrinho de madeira e me ensinou a respeitar os sentimentos de todo mundo. E hoje, ao entrar no quartinho dos fundos pela primeira vez em 5 anos, eu vi o homem que eu tentei ser durante toda a minha vida desmoronar pela primeira vez. Caí, desabei e ajoelhei chorando. Como eu poderia ser tão fraco? Um homem de completos 26 anos estava caído no chão de um quarto escuro porque era menino demais para aceitar que seu avô já se fora há anos e ainda não superara a ausência e a falta que os telefonemas às 19h30 faziam em todos os dias. Parece estupidez, mas é só saudade. Meu avô teve um ataque cardíaco na minha frente, exatamente ali naquele quarto, enquanto ouvia música em sua vitrola enferrujada e eu não pude fazer nada para salvá-lo.
Minha vó até hoje tem tudo guardado. Cartas, cartões, bilhetinhos,  presentes e, principalmente, todas as palavras que meu avô disse. Ela me ajudou a superar tudo quando, na verdade, esse era um papel a ser exercido por mim. Ela o ama todos os dias de sua vida, como se a qualquer momento ainda fosse encontrar um de seus bilhetinhos escondidos pela casa. Ela lava e passa sua camisa preferida toda semana e a coloca no guarda-roupa, como se a qualquer momento ele fosse chegar chamando-a pra sair para dançar. Ela esconde sua dor, mas é perceptível que a saudade a habita e maltrata tanto quanto a mim. A minha vó vive amando meu avô. O meu avô morreu amando a minha avó. Sabe quando dizem que o amor não é eterno e que nada nessa vida dura pra sempre? Bom, se isso for realmente verdade, meus avós são a exceção da regra.
Na bagunça do quarto, ouvindo a trilha sonora do falecimento que achei ao lado da vitrola velha de meu avô, encontrei um dos bilhetes deixados por ele, esse dentro do pote de açúcar:

Sempre que se perguntar se o nosso amor é eterno, lembre-se de que um dia um rapazote bateu na porta do seu pai pedindo sua mão em casamento. Sem trabalho certo, ele apenas queria garantir sua amada. Lembre-se que ele era inseguro e irresponsável, mas tinha certeza de que poderia ser responsável pelo seu coração. Lembre-se de que anos depois, ele ainda te manda recadinhos apaixonados toda manhã pra te lembrar do quanto ele é seu. Lembre-se de que o coração do homem velho continua moço, assim como o amor que ele sente. Um coração apaixonado nunca envelhece, um amor plantado nesse coração nunca morre. Pra sempre serei seu e sempre serás minha. Nosso amor foi eternizado pela nossa juventude interior. Serás minha amada apenas pelo tempo chamado sempre.

Escrevo isso hoje porque completaríamos dois anos de namoro. Você não está aqui. Provavelmente está em casa, lendo um livro ou vendo uma de suas séries de TV. Talvez nem se lembre que essa data é especial pra nós dois, mesmo tento tudo acabado. Mas, eu aguardo. Por você, por nós, eu aguardo. Meus avós me ensinaram que é possível que o pra sempre exista. Se existir, pra sempre esperarei por você.

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